A Arte da Gestão Emocional

A Arte da Gestão Emocional

Com o aumento da vacinação em Portugal e desconfinamentos, a população depara-se com a sensação de restabelecimento da normalidade. No entanto, também são numerosas as situações em que persiste o cansaço, o medo, a insegurança, o desconforto, a par da memória que 2020 (e 2021) nos deixou. Todos concordam que foi atípico, com desafios constantes, privações, ressignificações, oportunidades, e de grande carga emocional. Utilizamos o lado mais racional para ultrapassar esta fase, mas o lógico nem sempre é suficiente para moderar o estado emocional. Por muitos argumentos, raciocínios, estratégias, as emoções sobrepõem-se, querendo que lhes demos atenção. É preciso um cuidado com carinho (sem culpas). Nesta fase de (re)encontro connosco e com os outros, é fundamental o que eu designo por auto-compaixão: aprendermos a olhar para nós com sabedoria, com mais amor, compreensão, aceitação; menos julgamentos e exigências. Cada um/a de nós é o que é, e é quem é, e é um ser humano ‘perfeito’ com todas as suas forças, e também com as suas fragilidades. Não nos ensinaram na infância a gerir e ultrapassar estados de crise, mas também são os estados de maior fragilidade que nos permitem balizar a nossa auto-superação, com compaixão. Proponho o lema-estratégia que adaptei da Psicologia Positiva, Inteligência Emocional, Coaching e Programação Neurolinguística, com objetivo de gestão emocional:

ACEITAR x ACOLHER x TRANSFORMAR x HONRAR x LIBERTAR

Aceitar: só conseguimos mudar/ultrapassar/vencer o que aceitamos (se negarmos ou lutarmos contra as emoções, elas aumentam de intensidade).

Acolher: depois de aceitar que nos sentimos tristes, sem ânimo, … importa integrar esta emoção no nosso EU, sabendo que é parte de nós, e que não nos define na totalidade. Acolhemos o estado para então podermos dar-lhe a devida atenção. 

Transformar: O que é que esta emoção me está a transmitir? / O que ela significa? / O que realmente sinto ameaçado em mim? Quando refletimos já estamos no nível da racionalidade, e é então que damos abertura mental e emocional para a eventual mudança. “O que posso retirar como aprendizagem?”

Honrar: diz respeito a nos aceitarmos como somos, o que inclui nossos estados emocionais, caraterísticas de personalidade, forças, pontos fracos, pontos de melhoria. Honrar está intimamente relacionado com a compaixão – valorizarmos o que somos e quem somos.

Libertar: Só depois da aceitação cuidada, que acolhemos sem julgamentos, nos é possível transformar algo em nós. A par deste processo é importante nos valorizarmos – honrarmos o que está a acontecer, e também quem somos. Aí surge o momento de descarga emocional e alívio de toda a tensão provocada. Libertamos o estado aos poucos, sabendo que ele pode voltar (faz parte da natureza humana).

O que aconteceu no passado (consciente ou inconscientemente) pode ainda estar a fazer-se presente através de memórias e auto-percepções, pois afinal os dias de hoje vieram dar espaço ao ser humano para se debruçar sobre as suas vivências, reviver o que mais assusta. Há realidades que se vão manter, outras se alterar, memórias com menor ou maior carga emocional. Cada um/a ao seu ritmo, vai retomar a sua força e equilíbrio, até porque viver é escolher ser o que já faz parte de nós, mesmo que ainda não saibamos totalmente como.

Helga Gonçalves

Psicóloga Clínica, Coach e Facilitadora de Cura Reconectiva

Photo by Lina Trochez on Unsplash