Adolescência e Sexualidade: Dicas para Pais e Mães

Adolescência e Sexualidade: Dicas para Pais e Mães

Não sou criança, não sou adulto, quem sou eu? Sou Adolescente!

Que angústia se sente ao lidar com este processo, quer para quem o experimenta na primeira pessoa quer para quem o gerou e/ou educa! Tudo está em mudança, transformação, escolhas para realizar e aqui surge um processo que não passa despercebido, a adolescência! É um processo que está relacionado com o desvincular da autoridade o que implica uma tensão entre gerações. É desafiador para os/as adolescentes, quer para os/as pais/mães porque, por um lado temos o desencantamento dos/as pais/mães e a atração pelos pares, novo círculo social de suporte, e por outro temos os/as pais/mães que, apesar de estarem cientes que é necessário aceitar a nova fase, têm de manter a sua responsabilidade e estabelecer limites quando necessário.

A adolescência é considerada o período entre os 10-19 anos, que traz mudanças psicológicas que envolvem a alteração de humor, o desejo de viver intensamente, atração sexual, dúvidas sobre a vida, necessidade de aceitação, formação de grupos, afirmação da identidade pessoal e sexual e a iniciação na vida sexual. Traz também transformações significativas corporais e em especial enfoque nas mudanças “sexuais”, a redefinição permanente da sua identidade e insatisfação que acarreta, em muitas vezes, a vontade de testar os limites e a descoberta do sexual (no próprio e em relação com o outro).

A sexualidade é uma dimensão importante da vida humana que inclui o sexo, género, identidade, papéis e orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. Para os/as adolescentes é um momento de experimentações e descobertas e é também uma fase de natural distanciamento dos pais, o que pode dificultar a tarefa da comunicação, nomeadamente no que toca a assuntos tão sensíveis.

Surgem naturalmente questões relacionadas com a parte ‘mais sexual’ e erótica da sexualidade e é importante que a sexualidade não seja um assunto tabu entre pais/mães e filhos/as. Até porque é a altura para abordar as questões sobre a responsabilidade inerente ao início da atividade sexual, da contraceção e das infeções sexualmente transmissíveis (IST), temas que devem ser debatidos, sem nunca esquecer de incluir a discussão sobre os afetos e como deverão estar no centro de qualquer relacionamento.

Eis abaixo algumas sugestões para os/as pais/mães:

AS 7 DICAS:

1. Criar oportunidade para falar sobre sexualidade

Todos os momentos devem ser aproveitados para promover o esclarecimento das questões relacionadas com a sexualidade, surjam de conversas e dúvidas a propósito de um programa de televisão, rádio, um livro ou uma conversa na escola. Se a ocasião não for oportuna, ou se quem recebe a questão não se sentir preparado/a pode, no imediato dar uma resposta breve, prometendo e cumprindo regressar ao tema da sexualidade logo que possível, sem adiar o assunto.

2. Naturalidade do tema

Não falar sobre sexualidade, e assumir que se os/as adolescentes não perguntam é porque não têm dúvidas, pode ser um erro, na medida que existe um tempo para o fazer e será o tempo considerado ideal para pais/mães e adolescentes. Estes educadores deverão estar preparados para ‘agarrar’ quando o momento chegar.

3. Recetividade e Disponibilidade

Saber escutar é fundamental, e significa ausência de crítica ou julgamento. Torna-se importante para o/a adolescente sentir que pode confiar e que poderá repetir este processo o número de vezes necessário. Ao conversar com os/as filhos/as, e no final dessa conversa, ficar com a consciência que transmitiu que é normal que haja dúvidas e perceber que, se as tiver, se sentirá à vontade para abordar, então, certamente, criou o espaço ideal para o/a próprio/a adolescente ditar o ritmo de acesso à informação. Não precisa de esgotar o tema numa só conversa, e é importante perceber o que o/a adolescente quer realmente saber, e o que está por trás da sua questão ou dúvida para melhor avaliar a profundidade da resposta adequada. E fazê-lo o número de vezes necessário.

4. Verdade e Ciência

Não permitir que o/a adolescente se sinta enganado/a. Os/as pais/mães podem contar de forma gradual, mas o que contarem deve ser verdade. Perceber o motivo da questão ou desenvolvê-la, para compreender se foi algo que viu, leu, sentiu, vivenciou ou experimentou, e tentar partir do que o/a adolescente sabe, mesmo que inicialmente isso crie algum desconforto. A concorrência dos media, das conversas de “amigos” como fontes de informação é grande e os/as pais/mães devem estar atentos para desfazer equívocos e falsos conceitos.

5. Afetividade

Os afetos devem estar no centro das conversas sobre sexualidade, porque quando se reduz um tema à sua vertente física, a mensagem que se transmite é que os afetos têm um significado e um valor menor do que o biológico. E isso pode ajudar a maximizar comportamentos exploratórios vazios de sentido e que se sabe que acabam por ser mais frequentemente associados a risco.

Para a pergunta: ‘Mãe/Pai o que é uma ejaculação?’, a resposta deve ser um esclarecimento do que é a ejaculação e em que contextos surge, e acompanhada de uma contextualização sobre como habitualmente resulta de um comportamento de autodescoberta ou de um momento afetuoso muito íntimo, que é importante, e complementa um relacionamento entre duas pessoas.

Dependendo da maturidade do/a jovem, a ocasião pode ou não ser aproveitada também para abordar as questões da contraceção e das doenças sexualmente transmissíveis.

6. Informa(lidade) com Naturalidade

A descontração e o bom humor são bons aliados na hora de ultrapassar os constrangimentos que este tema possa provocar. Agir com naturalidade, e até usando bom humor, com os temas em discussão pode facilitar a comunicação. A informalidade ajuda à empatia e isso é fundamental para que os/as pais/mães consigam perceber que linguagem devem usar e qual o limite a considerar. Os/as jovens deixam à medida que os factos vão sendo abordados, com maior ou menor profundidade e detalhe. Muitos dizem mesmo: “Para aí… Não quero que me digas mais nada!”. Outros insistem e repetem: “Continuo sem perceber…”. Nem todos os/as adultos/as tiveram boas experiências sobre a forma como estes temas foram discutidos consigo. Neste sentido, pode não facilitar a abordagem, mas, por outro lado, pode dar a ideia aos pais/mães do que não querem e não devem fazer com os seus filhos.

7. Amar e Respeitar

O ritmo de crescimento é diferente e a personalidade do/a adolescente também ajuda a ditar as regras. Mostrar amor é também, neste caso, mostrar respeito pela pessoa que tem à sua frente, sem querer impor a sua visão pessoal.

Mariana Silva

Psicóloga, Psicoterapeuta e Neuropsicóloga

Foto de Tan Danh no Pexels