Comunicar-Conectar com o Universo Juvenil

Comunicar-Conectar com o Universo Juvenil

Frequentemente surge em intervenção psicológica a dificuldade que os adultos sentem em comunicar com as crianças e jovens. Na prática, a perspetiva de que há uma indisponibilidade dos mais jovens para estabelecer qualquer tipo de comunicação relaciona-se também com as expectativas que os adultos depositam na interação.

E, para nós adultos, o que é fundamental na interação com as outras pessoas?

Para além do objetivo que cada um/a tem ao comunicar, pretendemos ser ouvidos, compreendidos, respeitados, conectados connosco e com o mundo. Os tempos mudam, as dinâmicas pessoais e sociais também se transformam, mas a essência da comunicação será que mudou? Será que fazemos o que está ao nosso alcance para nos aproximarmos verdadeiramente do mundo do outro?

Importa ter presente o objetivo que temos para com as crianças e jovens e, a partir daí, flexibilizar a forma como nós (adultos) nos posicionamos. A juventude é uma fase de desenvolvimento humano, um período de mudanças que ocorrem por alterações hormonais, cognitivas e emocionais. É um tempo de travessia da infância para a vida adulta e, por isso, um tempo de descobertas, inquietações, desafios, de busca de respostas e construção identitária.

Estratégias para comunicar melhor com os mais jovens

Então, como criar uma conexão com o universo juvenil? Não existem receitas imediatas, mas existem estratégias que nos podem ajudar a comunicar melhor com os mais jovens:

  • Criar momentos de proximidade, com tempo e sem forçar a conversação, dar atenção e demonstrar genuíno interesse pela criança/jovem. Proporcionar segurança, abertura e confiança, envolvendo-a nas atividades e comunicação: falar com a criança e não para ela.
  • Utilizar palavras simples, adequadas à faixa etária, sem infantilizar.
  • Utilizar expressões “que abrem portas”, como: “Como foi o teu dia?”, “Que momento gostaste mais?”, “Que momento gostaste menos?”, “Sério? Podes contar-me mais sobre isso!”, “que interessante!”, “nunca tinha pensado dessa forma, boa!”
  • Evitar rótulos e ridicularizações, como: “Estás a comportar-te como uma criança de dois anos”, “Só fazes vergonhas”, estas só geram revolta e fazem a criança se sentir odiada o que afeta negativamente a visão de si própria. Em vez de dizer “és sempre o mesmo, o teu quarto está uma confusão”, experimente dizer “eu preciso que arrumes o quarto como já tínhamos combinado”.
  • Enfatizar a importância de qualquer solicitação, e comunicar sem julgamentos, colocando a tónica em factos concretos e nas nossas emoções: “estou a sentir-me cansado, podes explicar novamente que eu posso não ter compreendido bem?”.
  • Respeitar sempre a criança, e promover um ambiente seguro para que ela possa considerar outras perspetivas.

Então, reportando aos nossos tempos de infância e juventude, o que já naquela altura pretendíamos ao comunicar? Já em crianças e jovens queríamos que os adultos com quem contactávamos nos dessem a devida atenção, parassem para compreender o que realmente estávamos a pensar, sentir e transmitir.

Assim, para comunicar melhor com as crianças e jovens experimente ter presente que ‘quando nos sentimos escutados, compreendidos, respeitados, conectados connosco e com o mundo, sentimo-nos com mais valor e estamos preparados para crescer’.

Faz sentido para si aproveitar as férias para esta (re)descoberta?

Helga Gonçalves

Psicóloga Clinica, Coach e Facilitadora de Cura Reconetiva

Foto de Yulianto Poitier no Pexels