Ser, Estar e Praticar Mindfulness

Ser, Estar e Praticar Mindfulness

Ser, estar e praticar Mindfulness

“Quando estou a comer, estou a comer, quando estou a dormir, estou a dormir.”

Os melhores contos espirituais do Oriente (Calle, 2009)

Os tempos que correm apresentam-se extremamente acelerados e exigentes, pois “vivemos num mundo frenético. Enquanto dobramos a roupa, mantemos um olho nas crianças e outro na televisão; planeamos o dia enquanto ouvimos rádio ou tomamos banho; a caminho do trabalho planeamos o fim-de-semana. Na pressa de realizar as tarefas necessárias, podemos facilmente perder a nossa conexão com o momento presente – em relação ao que estamos a fazer ou a sentir” (Teixeira, 2018, online). Além disto, as decisões conscientes são substituídas por meras reações às situações e a saúde e o bem-estar são afetados pela pressa e o frenesim do dia-a-dia, existindo “pessoas que estão muito cansadas e não estão atentas a esse cansaço, mas não se sentem bem; e se estiverem demasiado cansadas durante demasiados anos poderão acabar por ficar doentes. Por isso, está tudo ligado” (Snel, 2019, in Wong, 2019, online).

Perante esta realidade novas abordagens de intervenção vão surgindo, e a prática de Mindfulness tem-se verificado eficaz na redução dos sintomas associados ao stress, luto ou trauma. É também uma ferramenta para a promoção do bem-estar e prevenção da doença.

O que é o Mindfulness?

O Mindfulness centra-se na intenção de viver o momento presente com consciência e com ausência de autojulgamento (Brown, Ryan & Creswell, 2007), implica a regulação da atenção e o cultivo da abertura e curiosidade (Bishop et al., 2004) e é uma atitude e um método para reduzir o sofrimento pessoal e desenvolver autoconhecimento, compaixão e sabedoria (Kabat-Zinn, 2005). 

Como iniciar a prática?

A técnica mais utilizada, principalmente quando iniciamos a prática, prende-se com o foco da atenção na respiração, seguindo o ritmo inspiração/expiração em cada movimento respiratório. Quando a mente se afasta do seu objeto e surgem pensamentos descontextualizados, o sujeito retorna suavemente a atenção para a respiração, sem julgamento (Kabat-Zinn, 1982).

Porque devemos praticar?

A Psicologia explica:

A prática de Mindfulness favorece a chegada de mais informação às instâncias pré-frontais do nosso cérebro. Uma vez que a atenção é direcionada para uma das correntes sensoriais, ao implicarmos ao mesmo tempo a capacidade de auto-observação, ou seja, a metacognição que nos permite tomar consciência dos processos mentais que estão em funcionamento, teremos a oportunidade de tornar a resposta mais flexível, desconectada e não-automática que, na ausência desta intervenção consciente, teria ocorrido (Simón, 2006). Em suma, ao pensarmos sobre o nosso próprio pensamento, podemos atuar sobre ele, eliminando-o, substituindo-o ou alterando-o. Por exemplo, se sei que o pensamento “estou cansada”, me perturba, posso substituí-lo por “vou fazer esta tarefa e depois descanso”.

– Quanto mais praticamos, mais fácil se torna.

A concentração da atenção momento a momento, que exige um esforço considerável para um principiante acaba por se tornar um hábito automático sem esforço. A prática do Mindfulness permite uma maior ativação do lado esquerdo do cérebro que está associado, não apenas a humor e estados emocionais positivos, mas também a uma maior capacidade de lidar com os estados negativos e a uma supressão voluntária do afeto negativo. Também favorece a produção de anticorpos, crucial à imunidade (Simón, 2006).

O primeiro efeito da prática da atenção plena é o desenvolvimento da capacidade de concentração da mente, e a concentração crescente traz serenidade. Consequentemente, o cultivo da serenidade leva a um aumento da compreensão da realidade (externa e interna) e aproxima a perceção da realidade como ela é (Kabat-Zinn, 2005).

A meditação ensina-nos a curar o que não pode ser suportado e a suportar o que não pode ser curado” (Lokos, 2012).

Helena Carvalho

Psicóloga Clínica e Instrutora de Meditação e de Mindfulness

Fonte: Carvalho, H. (2019). Aplicabilidade de programas de mindfulness: gestão de stress em professores e intervenção no trauma e luto.