
“Voar em liberdade para quem sai e (re)aprender novos voos para quem fica”, são dois olhares sobre este temática “Ninho Vazio”.
Ninho Vazio é a síndrome assim definida em algumas culturas por um sofrimento causado pela perda do papel de pais, causado pela saída dos filhos de casa.
Não obstante, causa ainda impacto noutros elementos da família, como o caso dos irmãos, irmãs, avós, tias, dependendo de quem partilha vivências ao longo da vida e para quem assiste a este voar.
Esta temática é abordada em contexto clínico com regularidade, mas pouco no dia-a-dia e surge com sinais de impacto na vida de quem fica, de acordo com a aceitação e preparação para esta etapa.
É um marco importante no ciclo da vida, pois surge o momento em que os jovens adultos decidem sair de casa, deixar o “ninho” e criar um novo, com ansia de prosperar nas suas capacidades e objetivos. Momento de assumir outras responsabilidades, de satisfazer novas necessidades pessoais, relacionais, profissionais e sociais.
Quanto maior segurança e confiança desenvolvida até este ciclo, maior a possibilidade de (auto)realização. Aqui entra o papel fundamental dos cuidadores, mãe, pai que fomentaram estas competências. Quanto menos necessário estes forem nesta fase, maior a consciência que exerceram um bom trabalho!
Ficar com a visão de “missão cumprida” facilita na aceitação, e promove estratégias de proteção para lidar com as emoções típicas e tão naturais que esta fase acarreta, como o vazio, o silêncio, sentimento de (in)utilidade, a tristeza, a revolta, entre outros estados que aprisionam o aproveitar esta fase.
Partilhar os sentimentos com os que ficam (outros filhos, o parceiro/a, avós…) ajuda na manutenção de regulação emocional, na medida que o apoio surge para realizarem novos rituais, novas rotinas, para poderem transformar os relacionamentos de “necessidade por afinidade” e assim minimizar o risco de se entrar num mecanismo compensatório (“eu preciso que ainda precises de mim”).
Pode ser ainda nesta fase que, surjam e/ou ganhem vida objetivos pessoais (dos cuidadores, pai e mãe), que aposte e invista em Si mesmo/a, que aceite um novo amor ou que acenda a chama da relação conjugal, que consiga aproveitar melhor os momentos com os restantes filhos/as, que realize as viagens por fazer.
Que tenha pilares e âncoras de resiliência para que esta fase seja bem vivida pelos que ficam e pelos que voam.
Amor é ganhar na perda,
é coragem de aceitar que nada se prende,
ganhar o Amor em deixar voar
na certeza que o/a abraço quando ele/ela voltar. (Silva, M., 2022)
Psicóloga, Neuropsicóloga e Psicoterapeuta
Foto de Jure Širić