Perdoar para avançar

Perdoar para avançar

Na prática clínica muito frequentemente surge o objetivo de superar um passado doloroso, “esquecer” uma experiência traumática. Profissionalmente ajudamos a viver com esse passado, com essa experiência, de forma realista, construtiva e apaziguada. Segundo Martin Seligman (2002), conceituado psicólogo, o primeiro passo para nos libertarmos de um passado que nos magoa ou uma experiência traumática, passa por compreendermos a importância de experimentarmos emoções positivas no dia a dia, emoções essas em relação ao nosso passado, ao presente e ao futuro. Ao prestarmos atenção ao modo como sentimos (passado), vivemos (presente) e pensamos (futuro), podemos redefinir as nossas emoções direcionando-as de maneira mais positiva, construindo um dia a dia mais satisfatório para nós.

Em relação ao Passado, a gratidão e o perdão são duas estratégias fundamentais para aumentar a satisfação/libertação do mesmo.

Quanto ao Presente, viver saboreando os prazeres simples da vida; sentir paixão pela vida e pelos objetivos; amar-se a si mesmo e sentir amor pelos outros e por todas as formas de vida; passar mais tempo com pessoas queridas, desenvolver relações positivas à sua volta e pôr em prática no dia a dia o que se tem de melhor (as nossas forças internas) são algumas das atividades intencionais que nos permitem desenvolver mais emoções positivas no nosso presente. Emoções positivas no presente são o bem-estar e apreço por cada momento.

Acerca do Futuro, esperança e otimismo são emoções positivas sobre o futuro, sendo que as habilidades de otimismo podem ser aprendidas e desenvolvidas.

A intervenção psicológica passa sobretudo por ajudar a transformar a tristeza da dor em gratidão, e a dor em amor (amor no sentido de amor universal por cada ser humano – sem ser o amor romântico). A libertação do passado passa pela consciência do lugar que ele ocupa na vida. Perceber o presente como a única oportunidade realista em que se pode agir para a mudança é por si só uma eficaz estratégia de gestão emocional.

Surge aqui a importância do perdão, de ressignificar as memórias de momentos desagradáveis/traumáticos, pois muitas vezes queremos avançar, mas algo nos faz resistir. O perdão quebra a retroalimentação das emoções negativas e faz-nos centrar a nossa atenção, de forma mais salutar, noutras emoções úteis para o momento presente. É fundamental poder-se entender porque nos apegamos tanto às lembranças amargas do passado e as razões pelas quais se possa estar a resistir ao ato de perdoar alguém (ou a nós mesmos). E as razões mais frequentes desta resistência são as seguintes ideias:

– “Perdoar é validar o comportamento da outra pessoa” / “Se perdoo, estou a concordar com o que a outra pessoa fez” / “É injusto perdoar e as pessoas merecem ser punidas pelo que fizeram” / “Não consigo perdoar! Como é possível perdoar alguém que me fez mal a mim ou a outra pessoa de quem gosto?  / “Perdoar não seria uma forma de me tornar cúmplice e permitir que a outra pessoa continue a fazer mal aos outros? / “Perdoar levaria a esquecer e isso não quero” (…).

Então, perdoar é em primeiro lugar uma escolha racional, para que depois haja a disponibilidade emocional para viver em plenitude o momento presente. Perdoar é libertar para poder avançar, com a certeza que ficará enriquecido com essa escolha.

O que escolhe libertar nestas férias?

Helga Gonçalves

Psicóloga Clínica, Coach e Facilitadora de Cura Reconectiva