
Tudo passa?! As horas passam, os dias passam, passam semanas, e acabamos por querer ‘empurrar’ para longe o que nos incomoda. E desta vez o que nos incomoda é totalmente novo, é profundamente desconcertante. Queremos chegar depressa à etapa seguinte desta fase mundial, sem sabermos ainda muito bem como.
A humanidade vivia, a maioria, numa fuga constante traduzida por uma correria diária, uma exigência e auto-exigência, sobrecarga traduzida numa desarmonia, um conflito interno por concebermos que estávamos sempre em corrida contra o tempo, e não tínhamos tempo. Preparamo-nos durante anos para alcançar um determinado equilíbrio emocional, psicológico, expansão na esfera pessoal, familiar, na vertente profissional, financeira, e surge este momento. O que fazer? Como resolver? Quando vai passar? Por muitas respostas que eu queira ter, a resposta que tenho é que está a ser bem difícil para todos/as nós, mas vamos continuar a fazer o nosso melhor, sendo esse melhor traduzido pelo que nos é possível e realista.
Deparamo-nos com todas estas alterações e tivemos que aceitar, adaptar, reestruturar. Cada um/a está a fazer o possível, com ‘trabalhos dobrados’, com redução de honorários, com dinâmicas familiares sem precedentes, horários de trabalho imprecisos onde se misturam vivências, ou então uma solidão onde a individualidade se faz ainda mais presente….E encontramo-nos nesta segurança “insegura”, necessária, mas muito exigente para todos nós. Temos saudades do que tanto nos assolava anteriormente, o nosso dia-a-dia tão normal. Instala-se agora uma atmosfera que nos afecta e, porque não somos seres isolados, estende-se também a toda a sociedade, a todo o planeta.
Queremos ter esperança, ânimo, resiliência, sermos ainda mais produtivos e aperfeiçoar o que somos e quem somos (afinal estamos a trabalhar a partir de casa, dizemos pacientemente e ‘ironicamente’ a nós mesmos), mas as emoções aparecem para nos mostrar que somos humanos, e que também temos medos, angústias, dúvidas sobre o futuro, saudades. Há uma inquietação flutuante entre o “eu não acredito que isto está a acontecer” e o “vai ficar tudo bem”. Efectivamente, já todos passamos por fases em que nos sentimos menos bem, desorientados, com dificuldades, e é verdade que passaram! O ser humano tem uma capacidade fantástica de se auto-superar e de se adaptar às circunstâncias que lhe surgem como desafios. No entanto, há momentos especialmente exigentes. Este é um desses momentos.
Sim, existe medo, ansiedade, incerteza, angústia, pânico, que são totalmente normativos numa situação deste tipo, mas também existe uma força dentro de nós que surge nos momentos de maior adversidade, que provavelmente nem sabíamos que a tínhamos, ou que talvez já a tenhamos utilizado em momentos do nosso passado, e agora é o momento de a fazermos renascer. Importa, então, reafirmar que somos mais fortes do aquilo que pensamos ser, temos mais recursos internos do que aqueles que por vezes consideramos ter, mas vamos estar atentos, para que, quando um/a de nós estiver a ir abaixo, haja alguém ‘para nos dar a mão’ – já pude comprovar na prática que juntos somos mais fortes.
Por último, quero partilhar que afastamento físico é afastamento físico, continuamos juntos e unidos se assim quisermos. Haja consciência, responsabilidade, cooperação, inter-ajuda. Sejamos os humanos 2020.
Helga Gonçalves
Psicóloga, Coach e Facilitadora de Cura Reconectiva