Quão dura pode ser a nossa voz interna que nos diz prontamente onde erramos, onde não devíamos ter dito ou feito algo porque foi tão errado?
Essa voz é a mesma que diz a alguém próximo “está tudo bem, errar é normal” ou “tu tens valor, estamos sempre a aprender, acredito em ti”?
Porque somos tendencialmente tão duros connosco e tão compassivos com o próximo de quem gostamos?
Talvez a melhor forma de abordar a autocompaixão seja: trata-te como tratarias alguém de quem gostas num momento de dor ou desafio.
Quando o ser humano se permite aprender e acolher as suas imperfeições, isso torna-o mais consciente de si próprio e, por isso, mais capaz de lidar com as dificuldades de forma resiliente e não autodestrutiva.
A autocompaixão vem de um lugar interno em que é permitido sentir seja o que for. É fácil pensar “eu não devia sentir isto”, “eu sou má pessoa porque estou a sentir aquilo”, “eu não quero sentir isto”. A autocompaixão entra nesses pensamentos como um lugar de conforto e de calmaria, onde nos tornamos o nosso aliado interno em vez de inimigo interno.
É essencial para uma postura autocompassiva reconhecer que todos os seres humanos são uma obra em construção e que todos cometem falhas, erros e vivem dificuldades na sua vida.
Exemplo:
Está a caminhar na rua com as compras e deixa-as cair ao chão e sente-se envergonhada.
Pensamento critico: Sou mesmo desastrada ou sou sempre a mesma coisa, incapaz até de segurar nas compras.
Pensamento autocompassivo: Percebo que me senti envergonhada, mas ter deixado cair as compras podia ter acontecido a qualquer pessoa, apenas me fugiram da mão, sou humana.
No primeiro exemplo há uma critica imediata a quem é e ao seu valor, no segundo exemplo reconhece a humanidade que existe em si.
A autocompaixão pode ser aprendida e assim transformar a forma como se relaciona consigo!
“A nossa tarefa não é procurar amor, mas meramente procurar e encontrar dentro de nós todas as barreiras que construímos contra ele” Rumi
Psicóloga Clínica, Terapeuta EMDR e Hipnoterapeuta
Foto de Engin Akyurt no Pexels.