
– Tenho medo de falar em público
– Penso sempre no que os outros vão pensar
– Quero ser eu, mas fico congelado
– As pessoas sabem logo quando fico envergonhada, fico muito vermelha
– Só ajo assim naquele contexto, mas na generalidade sou extrovertida
– quando entro numa sala com várias pessoas, sinto que me estão a observar. Não gosto disso, fico muito desconfortável
– Não sou interessante o suficiente e fico sem saber o que dizer
– Repenso os meus passos, o que vou fazer ali, para não fazer nada embaraçoso
– Gostava de ter a coragem de falar assim em público, sem que a voz me trema
Estas partilhas são sintomas da ansiedade social. Para algumas pessoas será mais limitante, para outras menos. Para algumas pessoas sempre foi assim, para outras tem fases ou contextos que acentuam estas dificuldades. Na verdade, estas e outras tantas afirmações e pensamentos estão, muitas vezes, interligados a outras problemáticas, como a ansiedade generalizada, a depressão, o pânico, as perturbações alimentares, entre outras.
Quando começamos a dizer à pessoa, em consulta, de que se trata de ansiedade social, ela rebate: “mas eu não sou assim sempre!”. Já se mencionarmos que tem baixa autoestima, é capaz de o reconhecer de imediato. Talvez ainda exista uma sobrevalorização na sociedade da extroversão, da desinibição.
De facto, em algumas situações, e enquanto profissional, observo que ter dificuldades no contexto social é mal acolhido pelo próprio, ativa vergonha. É como se para a pessoa fosse sinónimo de não ter competências sociais ou de estar a ser quem não é. A verdade é que a maior parte das pessoas tem essas habilidades, mas o medo e a insegurança dominam em muitas das situações. E nós não somos a insegurança, nem o medo, certo? Não é algo que nos defina como pessoas, pois são emoções e sentimentos. Não são características. Quando o medo e a insegurança vão embora, o que fica? Que aspetos ou características da pessoa sobressaem?
Um aspeto que está ligado a esse medo específico e a essa insegurança prende-se com a visão distorcida que a pessoa tem sobre si mesma. Muitas vezes só vê as suas dificuldades, a sua incapacidade e a sua falta de valor e acha que os outros vêm exatamente a mesma coisa. Claro que o que menos quer é estar em contextos onde é percebida dessa forma. E daí vem o evitamento, a não participação, a não decisão, o não envolvimento, o isolamento… Ativa-se um mecanismo protetor que, ao mesmo tempo, agrava a insegurança e o medo, agrava as dificuldades sentidas e aumenta o isolamento, a insatisfação, a ansiedade, a depressão e, por vezes, o pânico.
Anna-Konstantina Richter, Psicóloga Clínica que se dedica a esta problemática, menciona que os estudos epidemiológicos da ansiedade social não representam a real prevalência desta problemática na sociedade, no mundo, e que esta é muitas vezes desvalorizada pelos clínicos e pelos investigadores. Menciona, ainda, que os clientes com ansiedade social não são identificados facilmente, talvez por existirem outros diagnósticos presentes também, como a depressão ou o pânico. Não se considera que o começo desses problemas acontece mais cedo, com o desenvolvimento da ansiedade social, e, assim, ela não é identificada e, por isso , não é devidamente tratada. A difícil aceitação da problemática pelo paciente, pelos clínicos e pelos investigadores, e pela sociedade, faz com que o sofrimento, as dificuldades e muitas vezes o isolamento social persistam em muitos dos casos.
Por isso é que é importante falarmos sobre este assunto, para que as pessoas trabalhem o que está na base e não fiquem apenas pelo discurso linear de “só tens de sair da tua zona de conforto e expores-te”. Estratégias superficiais podem, em alguns casos, trazer a frustração de “se ser assim”, pois quando confrontada novamente com os contextos ameaçadores, a pessoa continua a não conseguir avançar. Não quero com isto dizer que nos devemos agarrar ao rótulo da ansiedade social. Quero, sim, reforçar que devemos reconhecer a problemática e trabalhar nela para conquistar a liberdade para sermos verdadeiramente autênticos, para largarmos as amarras do medo e agarrarmos o amor-próprio e a autoconfiança com segurança e com firmeza.
Psicóloga Clínica, Hipnoterapeuta, Terapeuta EMDR e Coach