Parentalidade Positiva e Desenvolvimento Infantil (Parte II)

Parentalidade Positiva e Desenvolvimento Infantil (Parte II)

Os cinco pilares da Parentalidade Positiva

No artigo anterior abordei a importância da relação parental no desenvolvimento da criança e expliquei em que consiste a Parentalidade Positiva. Nesta segunda parte, irei apresentar-lhe os pilares da Parentalidade Positiva.

A parentalidade positiva assenta em cinco pilares fundamentais, são eles:

  1. Ambiente seguro e protegido
  2. Ambiente de aprendizagem positiva;
  3. Disciplina assertiva;
  4. Expectativas realísticas;
  5. Autocuidado parental.

Ambiente seguro e protegido

As crianças precisam de brincar, explorar e experienciar o seu meio-ambiente e, para isso, os pais devem proporcionar-lhes um ambiente livre de perigos. A monitorização e supervisão são necessárias, mas devem ser adequadas à idade e ao nível de desenvolvimento da criança.

Crianças que se desenvolvem em ambientes envolventes que estimulam a sua curiosidade e promovem o desenvolvimento da linguagem e da cognição, têm menor probabilidade de se aborrecerem e, por isso de apresentarem comportamentos desadequados dado que estão mais centradas nos processos de exploração e de aprendizagem;

Ambiente de aprendizagem positiva

Os pais ou cuidadores devem responder de forma positiva e construtiva à criança, particularmente, quando é esta a iniciar as interações. Mesmo que por breves momentos, a criança deverá receber atenção ininterrupta por parte do adulto, na resposta aos interesses que suscitaram a sua interação. A criança aprende, desta forma, que pode recorrer aos pais sempre que necessita de apoio para resolver os seus problemas.  

Os pais devem, contudo, estar sensibilizados para a seleção de estratégias que promovam a autonomia da criança na procura de soluções para os seus problemas, para que esta aprenda a ser autónoma e se torne independente.  Os estudos científicos têm demonstrado que ambientes positivos de aprendizagem tendem a funcionar como elemento protetor, perante fatores de adversidade que estejam presentes na vida da criança, e contribuem para promover o seu desenvolvimento.

Disciplina Assertiva

Os pais ou cuidadores devem colocar de parte todo o tipo de estratégias coercivas e práticas disciplinares consideradas ineficazes (e.g., uso de punição física, manipulação emocional ou castigos). Por sua vez, aprendem a selecionar estratégias positivas que permitem gerir e mudar de forma efetiva os comportamentos da criança (e.g., regras justas, discussão das regras, instruções calmas e claras, ignorar de forma planeada, consequências lógicas, tempo de acalmia ou o tempo de estar sozinho). Estas estratégias vão ensinar a criança a aceitar a responsabilidade pelos seus comportamentos, tornando-a consciente das necessidades das outras pessoas.

Ajuda, ainda, a criança a desenvolver a capacidade de autorregulação emocional e a lidar com a frustração e impulsividade. Os pais devem ser consistentes e previsíveis nas respostas que fornecem á criança, para que esta compreenda mais facilmente o que é esperado de si, e possa agir em conformidade. Devem respeitar a individualidade da criança, fornecendo respostas rápidas e decisivas sempre que ocorra um comportamento desadequado por parte da criança.

Expectativas Realistas

Os pais devem desenvolver expectativas realistas relativamente às crianças e a si próprios. A parentalidade positiva apoia os pais a refletirem e explorem crenças e atribuições que estes possam ter sobre as causas do mau-comportamento da criança, e a selecionarem objetivos realistas e apropriados à idade e nível de desenvolvimento dos seus filhos.

Muitos pais tendem a ser demasiado exigentes ou perfecionistas, sentindo-se frustrados, inadequados ou envergonhados quando as coisas não correm como é esperado. Pretende-se assim reduzir este tipo de sentimentos para que as coisas corram pelo melhor.

Autocuidado parental:

Os pais ou cuidadores são encorajados a praticarem de forma regular estratégias que contribuam para aumentar a sua autoestima e sensação de bem-estar. Devem estar sensibilizados para pedir apoio sempre que necessário e devem estabelecer rotinas de autocuidado e descanso. Os pais precisam de estar no seu melhor e de experienciarem sensações de bem-estar, para levar a cabo a difícil tarefa de cuidar e educar uma criança.

Concluindo, é importante que os pais estabeleçam momentos temporais regulares para refletir de que forma estão / ou querem educar os seus filhos, de que forma estão a abordar os problemas ou dificuldades que enfrentam no momento e, se as estratégias selecionadas estão (ou não) a mostrar eficácia. Em caso de dúvida, é importante refletir sobre os cinco pilares da parentalidade positiva (i.e., ambiente seguro e protegido; ambiente positivo de aprendizagem, disciplina assertiva, expectativas realistas e autocuidado), e perceber se estes estão a ser assegurados/implementado.

Em algumas situações pode ser necessário, procurar apoio junto da sua rede de suporte (i.e., familiares, amigos) ou apoio mais especializado, para conseguir atingir os seus objetivos e transformar a forma como está a educar o(s) seu(s) filho(s), para que consiga lhe(s) proporcionar um contexto otimizado de desenvolvimento.

Sandra Nogueira

Psicóloga Clínica

Foto de Tatiana Syrikova