Ser pai/mãe envolve um conjunto amplo de tarefas que garantem a sobrevivência, o cuidado, o desenvolvimento e o bem-estar da criança, sendo que o grau de sucesso com que os pais ou cuidadores assumem e desempenham as mesmas irá impactar, não só a forma como a criança se irá adaptar aos diferentes contextos, mas também a sua saúde física e mental.
Os fatores que contribuem e impactam significativamente o desenvolvimento da criança são inúmeros e diversificados na sua origem. Alguns destes fatores não podem, de todo, ser transmutados (e.g., fatores genéticos, ambientais, saúde), outros dificilmente se alteram (e.g., status socioeconómico da família, cuidados de saúde e educação, condições habitacionais da família), mas existe um terceiro conjunto de fatores que podem ser modificáveis, como é o caso da qualidade da relação parental estabelecida com a criança e a forma como esta é parentalizada.
Os estudiosos desta matéria alcançaram um consenso acerca dos fatores que favorecem ou dificultam o processo de desenvolvimento infantil. Se por um lado, contextos familiares de afeto, segurança e estabilidade contribuem para o desenvolvimento normativo da criança, ambientes instáveis, imprevisíveis e caóticos, com elevados níveis de stress, parecem colocar em risco todo o processo de desenvolvimento e adaptabilidade da criança.
A importância da relação parental
De igual forma, a ciência comprovou que a qualidade da relação parental influencia a forma como a rede neuronal da criança se irá organizar e estruturar, mas também o tipo de competências que irá adquirir (e.g., linguísticas, cognitivas), a forma como irá interagir e socializar com os outros, como irá aprender a autorregular emoções, controlar impulsos e resolver os seus problemas, de uma forma geral, afetará o seu bem estar físico e psíquico.
A dimensão da parentalidade é tão importante que a Convenção dos Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral da ONU, destaca o papel central da família no desenvolvimento saudável dos filhos, reforçando que a parentalidade positiva é um direito básico da criança, ao afirmar que “todas as crianças têm direito a crescer numa família que promova ao máximo a capacitação das suas competências e habilidades” (ONU, 1989).
No mesmo sentido, o Conselho Europeu (CE, 2006, 2013) tem vindo a encorajar que os seus países-membros adotem medidas de suporte à família no sentido de as apoiar na adoção desta forma de parentalidade, dado que todas as crianças têm direito a crescer num ambiente seguro, estruturado, previsível e não violento.
Mas então de que trata a Parentalidade Positiva?
O Conselho da Europa (CE) define a parentalidade positiva como “todos os comportamentos e ações parentais que têm na sua base o pressuposto do melhor interesse da criança, que assegurem a satisfação das suas principais necessidades e da sua capacitação, sem nenhuma forma de violência, proporcionando-lhe o reconhecimento e a orientação necessários, o que implica a definição de limites ao seu comportamento, no sentido de possibilitar o seu pleno desenvolvimento” (CE, Lisboa 2006).
Na segunda parte deste artigo, partilharei os cinco pilares da Parentalidade Positiva.
Sandra Nogueira
Psicóloga Clínica
Foto de Yan Krukau