
O divórcio tem-se tornado um fenómeno cada vez mais frequente na sociedade portuguesa e é muitas vezes um momento exigente de adaptação familiar. O casal romântico termina com a separação, mas o casal parental existirá sempre que existirem filhos em comum.
É natural existirem conflitos/discordâncias entre os casais e os ex-casais. Discordar é saudável, desde que se consiga resolver o conflito de uma forma respeitosa. Expor a criança a um ambiente hostil e imprevisível, caracterizado por discussões frequentes é muito prejudicial para a sua saúde física e mental. É cientificamente reconhecido que é mais saudável para a criança conviver separadamente com os dois pais do que conviver com ambos num ambiente conflituoso. É extremamente importante que o divórcio seja realizado da forma mais harmoniosa possível, sem envolver a criança em assuntos que não são adequados para a sua faixa etária.
Às vezes, as situações de conflito resvalam para situações de violência. Fala-se de violência doméstica quando existe agressividade física, psicológica, sexual, económica contra um dos elementos do casal ou ex-casal, ou contra pessoas que coabitem, namorem, filhos ou outros familiares. A Violência Doméstica é crime! Um crime público, o que significa que qualquer pessoa pode fazer queixa. Quando há crianças envolvidas exige-se também a intervenção da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens que vai fazer uma avaliação da situação e perceber qual a melhor intervenção para as crianças e pais, que, entre outras medidas, pode ser nomeadamente o encaminhamento para consulta de psicologia.
Tanto as crianças como os adultos poderão manifestar dificuldades em se adaptar a este período pós-divórcio e poderão necessitar de apoio psicológico para os ajudar a integrar cognitiva e emocionalmente as experiências vividas. É comum as crianças/jovens apresentarem tristeza, ansiedade de separação, revolta, irritação, agressividade, dores psicossomáticas (ex. dores de barriga sem causa médica aparente). Esta sintomatologia tende a exacerbar-se caso existam conflitos interparentais.
Algumas crianças recusam contactar com um dos progenitores, após o divórcio dos pais. É importante avaliar cada situação de forma particular, pois os motivos da recusa são diversificados. Nestas situações, muitas vezes, será necessário intervir com os pais e com a criança, de forma a avaliar tentativas de instrumentalização da criança por parte de um dos progenitores, denegrindo, por exemplo, a imagem do outro; conflitos de lealdade; existência de maus tratos, entre outros.
O desafio para muitos pais divorciados é passar da conflituosidade à coparentalidade. Os pais vão ter de conseguir lidar com a realidade de um casamento mal-sucedido e evoluir para uma coparentalidade que se espera bem-sucedida. Para tal, vai ser necessário colocar o melhor interesse da criança em primeiro lugar, definir linhas de comunicação e diálogo abertas e honestas, sem utilizar a criança para transmitir informação. É importante existir flexibilidade e abertura para a negociação, respeito e, acima de tudo, empatia.
Psicóloga Clínica, Psicoterapeuta
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